Poucas vezes a eleição na Bahia teve papel de tanto destaque no cenário político-eleitoral brasileiro. Quarto maior colégio eleitoral do País (atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio), com 11,3 milhões de eleitores, o Estado pode ser decisivo na disputa pela presidência. Isso ocorre porque, se entre paulistas, mineiros e fluminenses a disputa entre Lula e Jair Bolsonaro está acirrada, na Bahia a vitória de Lula tende a ser elástica.
As pesquisas divulgadas ao longo da última semana apontam que, considerando votos válidos, o petista tem em torno de 70% das intenções de voto, ante 30% do atual presidente. Tal vantagem corresponde a entre 4 e 5 milhões de votos, dependendo da taxa de abstenção – um pouco menos que a diferença registrada entre Lula e Bolsonaro no primeiro turno em todo o País, pouco maior que 6 milhões de votos. “É a Bahia que vai liderar a vitória da esperança neste país”, disse Lula, em sua última mensagem aos eleitores baianos antes do segundo turno.
Diante do recrudescimento da disputa eleitoral nacional no segundo turno, tanto Lula quanto Bolsonaro miraram a Bahia tão logo a campanha foi reiniciada. O primeiro, com a expectativa de ampliar a vantagem obtida no primeiro turno no Estado, de 3,8 milhões de votos. O segundo, com a de tentar reduzir o prejuízo, para ter mais chance no segundo turno nacional.
Não à toa, nas últimas semanas, a Bahia viu os presidenciáveis e seus principais apoiadores em campanha intensa no Estado. Lula protagonizou em Salvador, junto com o candidato a governador Jerônimo Rodrigues (PT), um evento acompanhado por cerca de 200 mil pessoas no último dia 12 – o ato político é considerado o maior do gênero na história da Bahia.
Desde lá, as principais lideranças do PT no Estado têm um mantra: trabalhar para ampliar a vantagem do petista na Bahia. “Não vamos descalçar as sandálias, não vamos baixar as bandeiras, não vamos tirar o adesivo do peito até o dia da eleição”, repetiu Jerônimo em todos os discursos que realizou no segundo turno. Ao apelo, uniu-se o pedido para que a população compareça às urnas – mais de 20% dos eleitores baianos não votaram no primeiro turno. “Vamos mobilizar as pessoas, para que ninguém deixe de votar”, convocou o candidato. “É o futuro da Bahia e do Brasil que está em jogo.”
Nos últimos dias, nomes de destaque da política nacional também entraram na campanha eleitoral baiana, para impulsionar as candidaturas de Jerônimo e Lula e para incentivar a população a votar. A ex-presidente Dilma Rousseff marcou presença em eventos na região metropolitana de Salvador no dia 21. Já a ex-presidenciável e deputada federal eleita Marina Silva (Rede) mandou uma mensagem aos eleitores baianos na última terça-feira (25). “Muito feliz com esta reta final de campanha, de estarmos mobilizados para eleger aqueles que tem compromisso em combater as injustiças sociais contra as mulheres, os pretos, os indígenas e em criar um novo ciclo de prosperidade, com proteção ao meio ambiente, democracia e sustentabilidade”, disse a parlamentar.
Na quarta-feira (26), foi a vez de a senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada na eleição presidencial, falar diretamente com os eleitores da Bahia. “Agora estamos com Lula, pela democracia, pelo povo brasileiro, pelo povo mais pobre do Brasil”, disse Simone. “Dia 30, vamos apertar 13 duas vezes: é Jerônimo para governador e Lula para presidente.”
“Meio palanque”
Bolsonaro, por sua vez, tinha no deputado João Roma (PL) seu palanque no Estado no primeiro turno e apostou as fichas em uma aproximação com ACM Neto no segundo, para tentar melhor sorte entre os eleitores baianos. Na primeira votação, venceu em apenas dois dos 417 municípios baianos – Luís Eduardo Magalhães, no oeste do Estado, e Buerarema, no baixo-sul.
O atual presidente veio à Bahia no último dia 25 – passou por Guanambi e Barreiras – e pediu votos ao ex-prefeito de Salvador, chamado por ele de “lado oposto ao PT” na Bahia. ACM Neto não retribuiu o apoio explicitamente, mas instruiu seus principais aliados no Estado a declarar voto para Bolsonaro. Um dos mais notórios a entrar na campanha do presidente foi o vice-governador João Leão (PP), que rompeu com o PT em março para integrar a campanha de ACM Neto. Seu filho, Cacá Leão, foi o candidato a senador pela chapa do ex-prefeito de Salvador.
Nos últimos dias, também veio ao Estado a atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para participar de dois eventos – o segundo deles, na última quarta-feira (26), em Porto Seguro, contou também com as presenças do presidenciável Padre Kelmon (PTB) e de figuras proeminentes da base de apoio nacional do presidente, como o senador Magno Malta (PL-ES).
FONTE: JORNAL A TARDE