O aviso foi feito pelo presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, em rede nacional de televisão, enquanto manifestantes protestavam contra o governo nas ruas de Havana e em outras cidades da ilha. “Estamos convocando todos os revolucionários do país, a todos os comunistas, que saiam às ruas de qualquer lugar onde vão produzir essas provocações. Hoje, a partir de agora, enfrentem-nos com decisão, com firmeza, com valentia. (…) Não permitiremos que ninguém manipule nossa manifestação”, declarou. “Nós não entregaremos a soberania, a independência, a liberdade desta nação. Aqui, ratifico: temos muitos revolucionários neste país que estão dispostos a dar a vida, por convicção. Terão que passar por cima de nossos cadáveres se querem enfrentrar a nossa Revolução”, advertiu, ao culpar os Estados Unidos.
Os primeiros protestos sem precedentes começaram em San Antonio de Los Baños, a 33km de Havana, e se espalharam por outras cidades. Aos gritos de “Não temos medo” e “Abaixo a ditadura”, os manifestantes foram reprimidos pelas forças de segurança. A ilha socialista enfrenta a pior crise econômica em três décadas, agravada pela pandemia da covid-19. Ontem, Cuba registrou recorde de infecções pelo Sars-CoV-2, com 6.923 casos, além de 47 óbitos. Até o fechamento desta edição, o país contabilizava 238.491 infecções e 1.537 óbitos.
No Twitter, cubanos utilizavam as hashtags #SOSCuba e #SalvemosCuba para reportar marchas contrárias ao governo. Em vídeo divulgado na rede social, era possível ver uma multidão caminhando pelo Malecón — calçadão à beira-mar de Havana —, aos gritos de “Liberdade!”.
Díaz-Canel chegou a visitar San Antonio de Los Baños, reconheceu o clima de tensão e culpou os blecautes diários, que têm deixado a população sem acesso à eletricidade por várias horas. “Parece que a situação energética foi a que levantou alguns ânimos aqui”, disse. O chefe de Estado também responsabilizou o bloqueio imposto pelos EUA, 59 anos atrás. “Se quer que o povo fique melhor, levante o bloqueio. A máfia cubano-americana, pagando muito bem nas redes sociais, tomou como pretexto a situação de Cuba e convocou manifestações em todas as regiões ”, comentou.
Sob condição de anomimato, um morador de Camaguey, a cerca de 500km de Havana, confirmou ao Correio que o domingo foi de vários protestos na cidade, com “muitas pessoas exigindo liberdade”. “Agora, as coisas estão calmas, mas os policiais estão de prontidão, na esquina de minha casa, para golepar manifestantes”, relatou.
“Temos recebido denúncias de dentenções arbitrárias de manifestantes e possíveis cortes da internet. Milhares de cubanos querem viver melhor e com liberdades básicas. Ante esse reclamo justo, parece que, uma vez mais, Díaz-Canel somente é capaz de responder com repressão”, afirmou no Twitter José Miguel Vivanco, diretor executivo da organização não governamental Human Rights Watch (HRW) para as Américas. “Muitos dos cubanos estão cansados dos abusos do regime e perderam o medo.”
Às 16h20 (17h20 em Brasília), a escritora cubana Katherine Bisquet estava cercada pela polícia, em Havana. Na janela, colocou um cartaz com a frase: “Liberdade para Hamlet Lavastida e todos os presos políticos”. “Há muitos protestos em toda a capital. O nosso acesso à internet está sendo cortado. Nem todas as mensagens são enviadas. Estamos em alerta. Há vários detidos”, afirmou ao Correio. Ela exigia a libertação de Lavastida, artista levado para o Villa Marista, conhecido centro de tortura, em 26 de junho.