Por Lily Menezes- Tribuna da Bahia
Tirar a primeira via da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) pode ser sinônimo de comodidade, independência e até mesmo de necessidade para muita gente, que precisa estar motorizada para trabalhar. Entretanto, no segundo semestre, também será de coçar mais o bolso: diante dos aumentos da gasolina e outros derivados de petróleo, os Centros de Formação de Condutores (CFCs) não conseguirão mais manter os preços atuais para o curso, cujo preço varia de acordo com o tipo de veículo desejado. Atualmente, de acordo com cinco CFCs consultados pela reportagem, a habilitação A (moto) sai por R$ 1700 e a B (carro) fica por R$ 1950. Se quiser as duas, custa pouco mais de R$ 2200. Vale lembrar que a Bahia registrou pelo menos onze reajustes na gasosa só em 2022.
Segundo o Sindicato das Autoescolas e Centros de Formação de Condutores do Estado da Bahia (Sindauto-BA), a estimativa de reajuste nos preços será em torno de 25% para todas as alternativas de curso. Os novos preços ao consumidor devem ser praticados a partir de julho.Hoje, são cerca de 290 CFCs autorizados a funcionar em todo o Estado, e 80% deles estão ligados ao sindicato. Embora a porcentagem exata do aumento fique por conta da direção de cada autoescola, a certeza é de que não dá mais para manter as aulas no mesmo preço em tempos onde os custos só sobem. Principalmente num contexto onde o número de alunos matriculados, em algumas unidades, chegou a despencar pela metade.
“Durante o primeiro ano da pandemia, isso aqui ficou vazio. Muita gente acabou tendo outras prioridades e deixou a carteira pra depois. Mas as despesas para manter a frota para as aulas práticas continuaram vindo e a gasolina ficou absurdamente cara de uns tempos para cá. Os valores do curso provavelmente vão subir”, lamentou uma atendente da autoescola Status, na Cidade Baixa. E segundo o presidente do Sindauto-BA, Wellington Oliveira, já faz tempo que o preço não muda: a última mudança foi feita no ano pré-pandemia, em 2019. O motivo? Não afugentar ainda mais os clientes, cujo poder de compra só murchou nos últimos anos. Contudo, será necessário rever os preços: ao contrário de instrutores particulares, manter um CFC funcionando não é tarefa simples.
E a questão não fica apenas no preço da gasolina, que no ano passado custava cerca de R$ 6 e já passou de R$ 8 em alguns bairros de Salvador. “Há uma série de requisitos, como aquisição e renovação de frota, infraestrutura, carga horária obrigatória para as aulas teóricas e práticas, dentre outros. Não é só ter o carro e a moto”, pontuou. Na visão de outros donos de CFC, o reajuste ficará longe do ideal (alguns falaram em até 50% para conseguir fechar as contas), mas diante da possibilidade de a lista de alunos minguar ainda mais e as portas se fecharem, as escolas estão avaliando um equilíbrio entre funcionar no azul e angariar mais matrículas. Algumas autoescolas facilitam o pagamento em até 10x no boleto e no cartão de crédito para diluir o aumento e suavizar o bolso.E, para os aspirantes a motorizados, alívio no bolso é essencial: além das próprias aulas do CFC, tirar a primeira habilitação envolve pelo menos outros quatro custos.
“Eu tava querendo tirar a carteira pra ter mais oportunidades em seleção de emprego, mas fui colocar tudo na ponta do lápis e vai dar, por baixo, quase três mil reais. E com a gasolina no preço que tá, é capaz de subir esse custo em pelo menos mais quinhentos. Fica complicado, porque tem vaga que a habilitação A é requisito obrigatório”, argumentou o estudante do curso técnico em eletrotécnica Daniel Silva. Para tirar a CNH, há ainda as taxas do Detran relacionadas ao laudo (R$ 237), exame médico (R$ 128) e psicoteste (R$ 170). Em algumas autoescolas, cobra-se de R$ 100 a R$ 150 pela prova prática, que exige novo pagamento se o candidato não passar. No fim, a carteira permanente custa mais R$ 128. Com o novo preço, o pacote completo deve atingir a casa dos R$ 3,5 mil para a habilitação B.