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SÓ QUEM MORA NO SERTÃO, ENTENDE, SENTE E PERCEBE O VALOR DE CERTAS COISAS

Cultura

Quinta-Feira, 04 de Abril de 2024







Já se vão quase 150 dias de sol escaldante, de solo rachado, terra escura e poeirão cobrindo o céu... Essa é uma época em que a seca, como fera faminta, quer devorar o sertanejo...



Assim, esse povo levanta os olhos para o céu, buscando pingos de chuva, pingos de graça e sua imagem sofredora, mas esperançosa revela que Deus existe, que renova suas esperanças. Assim é o mundo, o mundo do sertão, dos homens que sabem que depois que a chuva cai na terra, é hora, hora de depositar no solo sua esperança, sua riqueza que alimenta a nação. Então as mulheres se juntam, uma comenta com a comadre, que manda chamar também a outra vizinha, que chama uma cunhada, que chama a sogra, que junta também os meninos, pois onde tem um bocado de mulheres sertanejas trabalhando tem que ter uns meninos correndo, ajudando, traquinando e as mães gritando: “sussega minino!”

Então as mulheres cortam a malva de bezerro, ou outro tipo de mato, faz uma vassoura, põe a vassoura debaixo do braço, amarra um pano na cabeça, algumas levam bacias, outras uma gamela e partem para o CALDEIRÃO, para quem não conhece o que é um caldeirão, é um buraco em um lajedo, que armazena água cristalina, que serve para armazenar água de beber, cozinhar e principalmente lavar roupa. “Volta aqui minino, pra não cair no calderão!”, pois diz a lenda no Sertão que ao cair no Caldeirão, não tem volta, será tragado pelas almas que ali um dia caíram.

Depois de varridos o resto do lodo que secou no fundo do caldeirão, de ser carregada aquela sujeira nas bacias e gamelas, das mulheres estarem com seus lenços esverdeados, as saias com um babado de lodo na barra, algumas por ter deixado cair, outras por ter recebido uma bola do lodo jogado pelas crianças que brincam de acertar uma a outra com aquela sujeira do caldeirão, de terem os joelhos ralados ou unhas arrancadas pela queda no lajedo. Só quem já sentiu a pele do joelho ser arrancada pelo lajedo quente, tem noção da dor do parto, mas o Céu está prestes a dar a luz e o Caldeirão está pronto para receber o líquido divino. E que divindade!!! Quem não conhece o sabor da água das primeiras chuvas? Uma água meio ácida, que coletada no caldeirão, colocada em um filtro de barro, em uma moringa, ou em um pote desce pela garganta despertando sabores e lembranças dos momentos maravilhosos de nossas vidas, acabando com a sede, mais que isso apagando parte das lembranças do tempo difícil do perído da seca, então o sertanejo está pronto para as labutas, para começar a trabalhar no período chuvoso e apostar na fartura que a chuva proporciona. Em seguida vem a lavada das roupas no caldeirão, a lavada de roupa, com sabão de bola ou o sabão de cinzas (dicuada) para o cabelo das moças, ficarem brilhantes e sedosos, roupas coaradas no lajedo, revitalizadas suas cores com anil e secadas em um cerca de arame, retira a poeira e as manchas do período da seca e quando deitamos em uma cama com um lençol lavado com água de caldeirão e embrulhamos com uma coberta lavada e coarada no caldeirão, parece que somos abraçados pelo céu e pelo amor da nossa vida, o cheiro, a maciez nos envolve e parece que estamos em outro mundo de tanta bonança, mas na verdade estamos no Sertão, na mesma terra que tem suas agruras, mas as bonanças e as maravilhas que somente um sertanejo e uma sertaneja sabem reconhecer e sentir...E você já viveu essa experiência? conte aqui para nós.



Transcrito da página "Jirau de Memórias Mutanense".





















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