Guanambi guarda, em sua memória afetiva, muitas figuras folclóricas que atravessaram gerações e continuam vivas nas lembranças que nossos pais, avós, parentes e amigos nos contam. Entre elas, uma das mais marcantes é, sem dúvida, o senhor Batuque.
Entre as décadas de 1950 e 1970, quando a cidade ainda não dispunha de jornais, emissoras de rádio ou internet, Batuque exercia, à sua maneira simples e espontânea, o papel de comunicador popular. Era ele quem levava as notícias de um canto a outro da cidade, espalhando informações sobre o cotidiano de Guanambi: fatos da zona do meretrício, notícias dos enfermos, dos falecimentos, a chegada dos caixeiros-viajantes e, claro, as inevitáveis fofocas da política local.
Dono de uma voz fina, alta e inconfundível, Batuque gostava de versos e de poesia. Perambulava pelas ruas, sempre atento a tudo, enquanto colecionava sucatas. Com as pernas enfaixadas por fitas e barbantes, em razão de um problema no joelho, caminhava descalço, apoiando-se em um pedaço de pau que lhe servia de muleta. Sua figura simples e peculiar fazia parte da paisagem urbana e do dia a dia da cidade.
Mais do que um personagem curioso, o senhor Batuque representa um tempo em que a notícia caminhava a pé, de boca em boca, fortalecendo os laços comunitários e a vida em comum. Um retrato fiel de uma Guanambi que ficou no passado, mas que permanece viva na saudade e na memória do seu povo.
Foto: Escritora Terezinha Teixeira Santos
Texto: Jorge Jornais com informações dos escritores e historiadores Maria Soares da Silva Teixeira e José Bonifácio Teixeira, publicados no livro “Guanambi: histórias, memórias e retratos de várias épocas”.
