Pagar alguma compra ou transferir quantias utilizando cheques é um hábito cada vez mais incomum entre os brasileiros. A implementação de modalidades de transferências onlines, como a TED e o pix, e a democratização de acesso ao cartão de crédito fizeram despencar o uso dos talões de cheque no Brasil. Entre 2020 e 2021, os pagamentos neste formato caíram 23%, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Mas, desde 1995, quando foi iniciado o acompanhamento da série histórica, a queda nas compensações de cheques foi de 93,4% no país, saindo de 3,3 bilhões, para 218,9 milhões em 2021. A redução fica ainda mais visível quando são analisados os dados do pix. A ferramenta, que permite transferências e pagamentos instantâneos, já é utilizada por mais de 117 milhões de brasileiros. A modalidade entrou em funcionamento em novembro de 2020.
O diretor adjunto de serviços da Febraban, Walter Faria, ressaltou que o número de cheques compensados teve queda exponencial a partir de 2002, com a implementação do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SBP). O movimento se acentuou, segundo ele, com o internet banking e a TED, mas principalmente com o pix. “Os meios eletrônicos trazem mais segurança à população para fazer as transações. No pix mesmo é possível rastrear toda a transação antes de efetivá-la”, exemplifica.
Faria ainda observou que o uso de cheque é feito, principalmente, fora das grandes capitais, em municípios onde o acesso à internet é mais restrito, para pagamentos parcelados de compras de valores mais altos. “Normalmente é de pessoa física para jurídica. Há algumas concessionárias de grandes cidades que quando se compra um carro pedem um cheque administrativo com valor assegurado”, analisou.
Além do exemplo citado, a reportagem observou que o cheque ainda é utilizado em Belo Horizonte por escolas de idiomas, academias, consultórios oftalmológicos e no setor de moda. Na Lore, grife com sede em Nova Lima, os talões são utilizados, mas representam cerca de 5% dos pagamentos recebidos, de acordo com o diretor comercial, Mauro Murta. O gestor explica que, em relação ao cartão de crédito, o cheque é mais benéfico por não ter taxa, cobrada pelas operadoras, em compras parceladas.
Ele ainda diz que, em caso de inadimplência, até seis meses após a entrega do cheque é possível pedir a execução do pagamento, em até três dias, na Justiça. “Mas tem a movimentação física, de ter que ir ao banco fazer um depósito, que é um lado negativo”, conta. Com a mudança de comportamento do consumidor, ele diz que foi preciso readequar a forma de trabalho. “Não trabalho mais com pronta entrega. Muitos clientes são de outras cidades e os pedidos são feitos à distância, e o número de boletos e cartão de crédito subiu”, contabiliza.
O coordenador de MBA em finanças do Ibmec BH, Fabiano Santos, acredita que o futuro deve ser com ainda mais incremento de tecnologia para transações bancárias. “Eu acredito que o mercado vai evoluir muito, inclusive em relação ao pix. Acho que uma possibilidade é uma máquina em que o lojista vai poder ver o dinheiro caindo na conta dele automaticamente. É um marco na tecnologia, que só está começando”, lembra.
Fabiano também acredita que o papel ocupado hoje por novas ferramentas, ratificam a função já ocupada por muito tempo pelos cheques. “O pix consolidou e otimizou os pagamentos à vista, enquanto os parcelamentos, no cartão de crédito, ficaram mais democráticos e limites cresceram”, destaca. Para Mauro Murta a tendência, inclusive, é do cheque acabar. “O digital chegou para ficar, traz muita facilidade. Na nossa loja mesmo, que foi aberta há um mês, não tivemos nenhum pagamento em cheque desde que abrimos. Vai virar raridade”, reforça o diretor da grife existente desde 2007.
Independente de qual forma de pagamento, a Febraban orienta à população que busque sempre operações seguras. Entre as dicas da entidade estão a conferência dos dados bancários e de valores para quem deseja fazer o pagamento. “Independente se é via ted, boleto de cobrança ou pix, todos os mecanismos costumam apresentar todos os dados antes de efetivar a transação”, aconselha Walter Faria.
REPORTAGEM O TEMPO- BH