Em tempos de tanta modernidade e correria, é no resgate das tradições que reencontramos a alma do nosso povo. O tempo pode passar, os caminhos podem mudar, mas há lembranças que o coração insiste em guardar. Uma delas é a imagem serena e marcante do velho carro de boi.
Quantas histórias foram embaladas ao som compassado das rodas de madeira sobre a terra? Quantas manhãs viram surgir o carro de boi trazendo da roça os frutos do trabalho, as esperanças do dia e o cheiro bom do interior? Era comum vê-lo cruzando as ruas com sua marcha tranquila, conduzido por mãos calejadas de sabedoria e simplicidade.
Para muitas crianças da época, andar num carro de boi era uma aventura encantadora. Bastava um passeio na carroceria para transformar um fim de tarde comum numa lembrança eterna. Havia algo de mágico naquele vaivém lento, nos estalos do chicote, no mugido compassado dos bois, no cantar do carreiro que fazia a alma da infância sorrir.
Hoje, quase não se vê mais. Há crianças que nunca viram um carro de boi de perto, e sequer sabem do papel fundamental que ele teve no progresso rural do nosso Brasil. Rústico, modesto e vagaroso, ele foi, sem dúvida, um símbolo da luta e da esperança de muitas gerações. Contudo, na zona rural de Caetité, Caculé, Palmas de Monte Alto e Riacho de Santana, ainda é muito comum o transporte por carro de boi. Nessas terras de gente simples e de alma grande, a tradição resiste firme, como se o tempo tivesse ali outro compasso – mais devagar, mais humano, mais fiel às raízes.
Mais do que um simples meio de transporte, o carro de boi nos lembra de um tempo em que a vida tinha outro ritmo – mais humano, mais próximo da natureza e das pessoas.
