Por Livia Veiga- Tribuna da Bahia
Uma análise da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) já aponta os primeiros efeitos negativos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos da América (EUA) nas exportações da Bahia. Os dados divulgados pela entidade indicam impactos significativos sobre setores estratégicos da economia baiana, principalmente entre alguns dos produtos que foram sobretaxados e que viram suas exportações recuarem 42,8%.
Conforme Marcus Verhine, gerente executivo de Desenvolvimento Industrial da FIEB, algumas empresas baianas foram bastante impactadas, especialmente aquelas que prepararam toda a sua linha de produção para atender o mercado norte-americano. “Não é fácil redirecionar esses produtos para outros mercados, porque há algumas especificidades do mercado norte-americano”.
Segundo ele, isso cria um componente de insegurança, até em razão de compromissos financeiros assumidos por muitas empresas (como investimentos realizados para ampliação da produção para venda ao mercado norte-americano) e que, agora, não estão obtendo resultados. “Isso gera uma insegurança, uma necessidade, sobretudo, de capital de giro para essas empresas”, destaca.
A FIEB informa que, na comparação entre os meses de julho e agosto de 2025, as exportações totais da Bahia registraram queda de 19,4%, passando de US$ 934,6 milhões para US$ 753,7 milhões. A análise sazonal, que compara agosto de 2025 com o mesmo mês de 2024, também evidencia queda nas exportações baianas.
O total exportado pelo estado caiu 35,7%, enquanto as vendas para os EUA recuaram 11,6%. Entre os produtos sobretaxados, a queda em relação a agosto de 2024 foi de 22%, enquanto os produtos livres de tarifa tiveram leve recuo de 4,2%. De acordo com a FIEB, entre os produtos mais atingidos pelas tarifas estão: manteiga de cacau, celulose, magnésia calcinada, ferroligas e calçados. A entidade destaca que alguns itens, como butadieno não saturado e ferrosilício, deixaram de ser vendidos para os EUA: “seis dos principais produtos baianos tiveram suas exportações totalmente interrompidas, com destaque para os setores químico/petroquímico, metalúrgico e de alimentos”.
Em contrapartida, produtos como mangas e pneus para ônibus, mesmo sujeitos a tarifas elevadas, registraram aumento nas exportações, o que pode indicar uma antecipação de embarques antes do início da vigência das tarifas, em 6 de agosto. Na contramão dessa tendência de queda, as exportações baianas para os EUA aumentaram 9,8% no mesmo período, atingindo US$ 64,1 milhões.
Apesar do crescimento agregado, segundo a entidade, o detalhamento por tipo de produto revela que o aumento foi impulsionado, principalmente, por itens isentos de sobretaxa, cujas vendas mais do que dobraram (alta de 136,7%). E, de acordo com a FIEB, ainda é cedo para mensurar completamente os efeitos do tarifaço. A instituição alerta que o comportamento observado pode ter sido influenciado por estratégias de antecipação ou adaptação adotadas por exportadores e compradores americanos desde o anúncio da medida, no início de julho. Além disso, uma nova lista de produtos isentos foi divulgada pelo governo americano no dia 9 de setembro, o que pode alterar novamente a dinâmica comercial.
Verhine afirma que será necessário aguardar os dados dos próximos meses para, de fato, ter a dimensão do impacto do tarifaço nas exportações baianas. Como ele analisa, existem meios de reduzir impactos do tarifaço, a médio e longo prazo, mas, a princípio, a negociação com os EUA é o melhor caminho.
“Existe uma possibilidade, de, no médio e longo prazo, redirecionar as exportações da Bahia, que iam para os Estados Unidos, para outros mercados. Mas isso não é uma coisa automática, exige também mudança até do próprio produto, dependendo do produto, das especificidades, prospecção em novos mercados, o que não é uma coisa assim trivial, rápida, instantânea”, alerta.
De acordo com o gerente executivo de Desenvolvimento Industrial da FIEB, é preciso que, tanto do ponto de vista empresarial, quanto governamental, o diálogo seja mantido com os EUA em prol da flexibilização das tarifas, o que já foi, em parte, alcançado. Quanto às medidas a serem adotadas para reduzir os efeitos negativos do tarifaço nas exportações, Verhine cita exemplo de estados que estão combinando três linhas de apoio.
“Liberação/transferência de créditos de ICMS; linhas de crédito com juros equalizados (via bancos de fomento); e medidas “de caixa” como postergação de ICMS e compras públicas emergenciais de produtos afetados”, detalha. Segundo ele, isso vem em complemento ao Plano Brasil Soberano, do governo federal, que implica em crédito lastreado no FGE, prazos de drawback, condicionante de manutenção de empregos.